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Deep Real 

As diferentes versões do Eu digital.

escrito por Bruno Strassburger

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As redes sociais estão infestadas de contas fake. Usadas por pessoas reais, para entrar e sair, seguir, comentar e curtir sem serem identificadas ou julgadas, elas já foram criadas por mais de 30% dos usuários globais.

 

Seria a sua conta fake mais real que você?

Três, quatro, talvez cinco macro temas principais e pronto: o seu dia, a sua semana, ou até o mesmo o seu mês inteiro estarão bem servidos. Nos nutrindo só do que gostamos, esse chef sabe que não vai errar. E não tem vontade, nem motivo, de nos impressionar ou de nos apresentar algo novo. 

 

Os algoritmos repetem padrões limitados de interesses, nos oferecendo um cardápio previsível.

Mas e se você quiser começar de novo? Pode.

Simplesmente delete a sua conta, perca todos os contatos e seguidores interessantes que você conquistou ao longo do tempo e comece do zero, adicionando um a um. Quer? 

Ninguém quer. Ainda mais quando temos a comida na boca, da forma mais conveniente possível. Então como trocar de menu? Pesquisando as alternativas, a mais citada foi: criar uma conta fake.

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Bots não, Fakes. 

Não estou falando das contas fake (ou Bots) que inflam os números de seguidores das celebridades e influenciadores (25% dos mais de 100M de seguidores de LeBron James, são contas suspeitas, segundo a Sortlist), nem das mais de 5.8 bilhões de contas fake que o Facebook retirou somente em 2022, segundo a Statista.

 

Falo daquelas contas fake que são usadas por pessoas reais, para entrar e sair, seguir e curtir, sem serem identificadas. Protegidos por uma imagem tosca ou sem imagem nenhuma, as contas fake proporcionam uma liberdade de se aventurar por temas e conteúdos que nem imaginávamos. 

 

Em pesquisa realizada nos Estados Unidos, cerca de 1/3 dos usuários de redes sociais afirmaram ter uma conta fake. Os principais motivos são interessantes: 

"poder compartilhar os meus pensamentos sem ser julgado" (41%) 

2º - "para espionar o perfil de outra pessoa" (38%)

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Onda Crítica e Indignada

Compartilhar o que se pensa não é um ato trivial, ainda mais em ambientes em que críticos estão em constante vigilância, como a internet. Essa vigilância indignada que surgem e se desfaz repentinamente virou até um termo criado pelo filósofo contemporâneo Byung-Chul Han em seu livro “No enxame: perspectivas do digital”, Shitstorms "ondas de indignação que surgem frequentemente em vista de acontecimentos que têm muito pouca relevância social ou política", formadas, segundo o autor, por um "aglomerado sem reunião, uma massa sem interioridade, sem alma ou espírito". Para Byung-Chul Han, o meio digital retira as distâncias e possibilita que a opinião percorra a esfera privada à esfera pública, sem um momento de reflexão.

Avaliação do Eu 

Nesse ambiente super crítico, onde o íntimo se mistura com o público, quando publicamos as nossas opiniões, estamos nos despindo perante o outro, à mercê do julgamento do outro. 

 

“Tal busca pelo olhar do outro sempre foi a nossa grande motivação, visto que nos constituímos como sujeitos lá nos primórdios da nossa vida, a partir do olhar do outro. Sempre vamos buscar este olhar fundante em nossa vida, algo que seja tão maravilhoso quanto aquela experiência de ser o centro do mundo quando éramos bebês.” 

Betina Strassburger, psicóloga. 

 

Mas será que vamos ter a oportunidade de vivenciar isso de novo? Não.

 

A vida vai se impor e vamos nos frustrar. E não adianta ir correndo pro feed infinito para aplacar a ansiedade.

 

O que achamos que o outro espera de nós, diz respeito ao ideal que colocamos sobre nós mesmos. E acredite, esse que está monitorando e julgando nossos comportamentos é bem mais chato que aquele outro, real, que não dá tanta importância assim para o que fazemos.

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Uma Mentira Indistinguível

Se já estamos com problemas em posicionar o verdadeiro eu nas diferentes versões e plataformas, se estar em uma rede social borra a nossa percepção do que é nosso/interno e do que é real/externo imagine romper totalmente com a realidade, com o factual. 

 

Em “2041: Como a inteligência artificial vai mudar sua vida nas próximas décadas”, o cineasta Chen Qiufan e o cientista computacional Kai-Fu Lee, além de formar uma inusitada dupla, ilustram como a Visão Computacional e as Rede Adversárias Generativas (GAN) moldarão um futuro próximo, onde não poderemos mais discernir o que é real ou fake.

 

Cada vez mais próximo e factível, a verdade de ser, de estar e de fazer pode ser criada, editada e renderizada. A Deepfake nos direciona para tempos de incertezas do que é real, sem termos condições de avaliação a olho nú. 

 

Hoje o fake é caricato, é uma fuga, uma máscara. No futuro será uma realidade indistinguível.

 

Seria a sua próxima versão fake mais real que você?

qual sua neura?

São Paulo, Brasil.

+55 11 9917 55 250

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